domingo, 21 de setembro de 2008

Chuva

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

Mariza

sábado, 20 de setembro de 2008

Na solidão...

Num post anterior referi o que me levou a criar um blog. E um dos motivos foi precisamente o refúgio das noites de angústia, de tristeza, de solidão....
É assim que me sinto hoje.
Triste...
Angustiada...
Só...
Por isso escrevo... Escrevo pelo conforto que cada palavra me dá, pela companhia de cada parágrafo...
Escrevo... e em cada ... coloco tudo o que vai no mais íntimo do meu ser e que não tenho coragem de escrever...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca
isto de ser poeta tem muito que se lhe diga... Podia mesmo comparar com a música! E dizer que ser poeta é compôr com silêncios, criar harmonias, consonâncias e dissonâncias... Compôr em Allegro, Presto ou moderato, piano ou forte... Depositar em cada palavra os sentimentos mais profundos do íntimo do nosso ser!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A terceira tentação

"A terceira tentação dos homens no que diz respeito ao amor, é a de "dar-a-mão-sem-se-abaixar". Pensar que se pode amar sem se abaixar, sem ficar a perder. E então dizem coisas como: "Amo-te mas não digas a ninguém. A minha imagem ficaria estragada." Ou: "Deixa-me fazer-te o bem mas não me obrigues a ir a tua casa, não me sinto bem nesse tipo de bairros." mas amar é aceitar chegar a perder para que o outro fique a ganhar. Amar é quebrar a linha que nos mantém sempre por ciman na nossa auto-suficiência."
O príncipe e a Lavadeira, P.e Nuno Tovar de lemos
Quando se ama de verdade, não é, de todo, preciso gritar "AMO-TE" para o mundo ouvir! É sim, em cada gesto manifestar esse verdadeiro amor, mostrar ao outro que por ele daríamos a vida, que por ele íamos até ao fim do mundo se tal fosse preciso! É sobretudo assumir perante o outro que ele faz parte da nossa vida, com as suas qualidades e defeitos!

domingo, 14 de setembro de 2008

A luz...





A cruz... A minha!

Depois de ter ouvido uma homilia simples em palavras, mas verdadeira e rica em significado, fiquei a pensar...
... No quanto somos egoístas;
... nas vezes que nos esquecemos de ser humildades;
... nas vezes em que pensamos que, para além nós, não existe mais ninguém;
... nas vezes em que achamos que a nossa cruz é a mais pesada;
... nas vezes em que não conseguimos desculpar porque nos esquecemos que errare humanum est;
... nas vezes em que nos esquecemos de amar;
... nas vezes...
... nas vezes...
Valorizar aquilo que temos, aquilo que somos e deixar que o amor d'Aquele que deu a vida por nós nos "invada", é o caminho! Sem esquecer que, o testemunho do Verdadeiro Amor, foi Ele quem o deu!
Em cada passo, em cada gesto, em cada sorriso, em cada lágrima... Ele está SEMPRE de braços abertos pronto para nos dar alento, conforto e paz para continuarmos!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Só mesmo amar...

Haverá sensação melhor do que nos sentirmos amados?
Acredito que sim... Por muito boa que seja a sensação de sentir que alguém nos ama, melhor do que ser amado, só mesmo amar! Poder dar, mas dar de verdade, de forma desprendida e livre.
Os alunos voltaram... e sem dúvida neles encontro o "próximo"! Obrigada meninos e meninas pelo fantástico momento de hoje...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Amor em paz

Eu amei
E amei, ai de mim, muito mais do que devia amar

E chorei
Ao sentir que iria sofrer e me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza aconteceu você

Encontrei
Em você a razão de viver e de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz

O amor é a coisa mais triste quando se desfaz

Tom Jobim e Vinicius de Moraes

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"A alma que anda no amor, não cansa nem se cansa..."

Sem dúvida este é um dos cânticos de taizé que mais me toca...
Não quero dizer que tenho saudades daquela semana fantástica passada em Taizé, onde conheci pessoas com ideais comuns, onde vivi momentos muito bons, onde chorei e ri... Quero dizer sim que recordarei sempre aqueles momentos de oração, de partilha que vivemos tão intensamente durante uma semana...
Agora, há que lançar as sementes que trouxe na bagagem... sementes de paz, simplicidade, humildade e amor... lançá-las à terra! Lançá-las junto daqueles com quem estou diariamente: os meus alunos, colegas e amigos...
Porque acredito que o caminho não se faz sem amor, quero, em todas as minhas acções, ter presente o amor de que tanto tenho falado neste blog! Quero acreditar e mostrar aos outros que a vida nos sorri se O tivermos presente nas nossas vidas! É com Ele que aprendemos a perdoar, a desculpar e a ver em todos os que nos rodeiam o verdadeiro amor...

" Confiou e já sem medo deixou-se ir"

"Uma vez pediram-me para falar do mar....
-Mas tu, que és peixe, nunca sentiste o mar?
-Creio que o sinto, às vezes, ao passar nas guelras. Umas vezes sinto-o outras não. às vezes sinto-o quando me distraio com outras coisas. Fecho os olhos e fico a sentir o mar. Isto tudo de noite, claro, para que os outros não vejam. Diriam que sou louco para dar tempo ao mar....Então, veio uma corrente mais forte que o fazia descer. O peixe tentou lutar contra ela com quantas forças tinha, à medida que via distanciarem-se as coisas da superfície. Talvez para sempre... mas depois fechou os olhos, confiou e já sem medo deixou-se ir."
O Príncipe e a lavadeira, P.e Nuno tovar de lemos

Este é um dos textos que aplico em muitas situações da minha vida e gostava de o partilhar. A corrente, aplicada aquilo que somos, são os amigos, conhecidos, desconhecidos, momentos e vivências que vamos tendo à medida que o tempo passa. Essa corrente é importante porque, pela confiança que vamos depositando nela, nos vai mostrando para onde seguir....Hoje, aos 29 anos, tenho uma visão diferente e se calhar mais "aprofundada" do que deve estar por detrás desta corrente...
Quantas vezes nos deixamos levar sem termos sequer noção de onde chegaremos?
Quantas vezes olhamos para trás e percebemos que nos enganámos no caminho?
Quantas vezes nos retraímos para não sermos " condenados"?
Quantas vezes...
Quantas vezes...
Ora, seja qual for a condição... o mais importante é o reconhecimento daquilo que nós somos, do que nos torna felizes, do que nos faz sorrir! É, sobretudo, reconhecer se por acaso nos deixámos levar pela corrente e ela nos deixou num "beco sem saída"! Se por ventura algumas vez perceberes que te enganaste no caminho.... procura aquilo que te faz verdadeiramente feliz... a cima de tudo, confia!

domingo, 7 de setembro de 2008

O amor vence tudo

Nem sempre é fácil aceitar os outros e o que eles representam na minha vida... E não é fácil porquê? Porque sou egoísta e porque não tenho a capacidade de reconhecer neles o "próximo", aquele que devo amar sempre, a quem devo desculpar, em quem devo acreditar...
Hoje, depois de ter ouvido um dos salmos que mais gosto, dei por mim a pensar o quanto é difícil ouvi-Lo falar ao coração, ou pelo menos perceber que Ele me fala...
Quantas vezes Ele já me falou e eu não O ouvi? quantas vezes O deixo a falar sozinho, porque sou egoísta e acho que as "minhas coisas" são mais importantes do que Ele? quantas vezes... quantas vezes....

Encontro-O naquele abraço, forte, sentido, que me faz não lembrar do resto mundo, que me protege, que me conforta e me devolve força e coragem para continuar! Aquele abraço único, insubstituível e incomparável! Aquele abraço que me faz sentir viva! Aquele abraço que não peço ou não dou só por dar, mas que sinto que preciso e que valorizo MUITO...

Quero continuar a encontrá-Lo neste abraço e no meu coração....
Há muitos anos, quando li pela primeira vez O Principezinho, uma frase ecoou cá dentro... "o essencial é invisível aos olhos... só se vê bem com o coração"....

Farei de tudo para continuar a ouvi-Lo e por não lhe fechar o meu coração....

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A segunda tentação

"Esta é precisamente a segunda tentação dos homens que se esforçam por seguir o bem, a tentação do" fazer-coisas-em-vez-de-estar". Pensam que o amor se pode trocar por fazer coisas, não entendem que consiste sobretudo em estar presente. Dizem uns aos outros: "Dei-te uma hora so meu tempo, vês como te amo?" ou: "Canto os cânticos da tua cultura, vês como te amo?", ou: "Visto-me como tu te vestes e sorrio quando tu passas, vês como te amo?" Mas o amor não consiste em horas, nem em cânticos, nem em roupas, nem em sorrisos, nem em nada que se possa fazer por fora. O amor consiste em dar-se a si mesmo e para isso é preciso ter tempo para estar com o outro, ter tempo para simplesmente estar."

O Príncipe e a Lavadeira, P.e Nuno Tovar de Lemos

Ama e faz o que quiseres...

Foi ao ouvir esta frase, desta vez da boca de uma "jóia única" que ocupa um lugar muito importante na minha vida, que surgiu a vontade de criar um blog.
Um blog que, como não poderia deixar de ser, teria que ser sobre o amor, sobre a luta que travo porque amo e não me sinto amada ou mesmo porque sou amada e não sou capaz de retribuir.
Este "meu" espaço serve de refúgio e torna-se uma companhia nas noites em que a solidão faz despontar em mim sentimentos menos nobres que, não tendo a capacidade de os evitar, me angustiam...
Quero tentar seguir pelos caminhos deste verdadeiro amor tantas vezes falado e muito poucas vezes vivido! Quero viver este amor "que não busca o próprio interesse", mas que "tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta". E para o viver verdadeiramente não será preciso GPS, apenas um coração disponível... disponível para dar, para desculpar, para ser paciente, para ser amado e para amar...

A proximidade

"Aparência Humana?! Essa é a primeira tentação dos homens, a tentação do "dar-se-sem-se-dar", brincar ao amor sem se comprometer. Tocar sem se deixar afectar, sem perder as suas seguranças. Amar é deixar que a carga do outro passe para nós. Uma espécie de transferência. Quando amamos tornamo-nos frágeis. Então achamos mais fácil guardar sempre uma certa distância cada vez que amamos, de modo a nunca corrermos o risco de sermos afectados."
O Príncipe e a Lavadeira, P.e Nuno Tovar de Lemos

terça-feira, 2 de setembro de 2008

O príncipe e a lavadeira

" No fundo, nós habitualmente pensamos que as coisas ou estão longe ou estão perto, ou são grandes ou são pequenas, ou são fortes ou são fracas. Mas Deus é diferente. Parece que troca o ou pelo e. Ele está longe e está perto, é grande e é pequeno, é muito forte e muito fraco, tudo ao mesmo tempo e de uma maneira única que é só sua.
Talvez Deus tenha ficado assim por ser pessoalmente táo exagerado no amor. Porque, enquanto nós temos amor, Ele é feito de amor. E isto faz toda a diferença, claro, faz ter comportamentos difíceis de entender. Como aquilo que se passou entre o PRÍNCIPE E A LAVADEIRA, quando o príncipe, por amor, deixou o palácio do pai e foi viver com a lavadeira para a clareira do bosque. Se nós pensamos que Deus ou é Deus ou é homem, não O conseguimos entender. Nem damos por Ele, caso nasça nalguma gruta desta terra e tenha de aprender a andar e a falar como qualquer homem."

P.e Nuno Tovar de Lemos
Um excerto de um dos livros de que mais gosto... a quem mo deu a conhecer e gentilmente mo ofereceu... Obrigada! :-)

...

Ainda que eu fale a língua dos anjos e dos homens,
Se não tiver amor, sou como o bronze que ressoa
Ou como o címbalo que tine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
E conheça todos os mistérios e toda a ciência,
Ainda que possua a fé em plenitude,
A ponto de transportar montanhas,
Se não tiver amor, nada sou.
Ainda que distribua todos os meus bens em esmolas
E entregue o meu corpo a fim de ser queimado,
Se não tiver amor, de nada me aproveita.
O amor é paciente,
O amor é benigno, não é invejoso;

O amor não se ufana, não se ensoberbece,
Não é inconveniente, não procura o seu interesse,
Não se irrita, não suspeita mal,
Não se alegra com a justiça, mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O amor nunca acabará.
As profecias desaparecerão,
As línguas cessarão e a ciência findará,
Porque a nossa ciência é imperfeita.
Mas quando vier o que é perfeito,
O que é imperfeito será abolido.
No tempo em que eu era criança,
Falava como criança, raciocinava como criança;
Mas, quando me tornei homem,
Eliminei as coisas de criança.
Hoje vemos, como por um espelho,
De maneira confusa,
Mas então veremos face a face.
Hoje conheço de maneira imperfeita:
Então, conhecerei exactamente,
Como também sou conhecido.
Agora subsistem estas três:
a fé, a esperança e o amor;

Mas a maior delas é o amor.

(São Paulo, 1ª Carta aos Coríntios,13)

Santo Agostinho...

"A medida do amor é amar sem medida."

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O amor, quando se revela

O amor, quando se revela,
não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente.
Cala: parece esquecer.

Ah, mas se ela adivinhasse,
se pudesse ouvir o olhar,
e se um olhar lhe bastasse
pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
quem quer dizer quanto sente
fica sem alma nem fala,
fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
o que não lhe ouso contar,
já não terei que falar-lhe
porque lhe estou a falar...



Fernando Pessoa

O início...

" Há uma velha canção árabe que começa assim: "Só Deus e eu mesmo podemos saber o que se passa no meu coração".
Eu gostaria de abrir o meu peito, tirá-lo dali e levá-lo nas minhas mãos para que todos o pudessem ver. Porque não há maior desejo numa mulher do que revelar-se a si mesma, ser compreendida pelo seu próximo; todos nós queremos que a luz que colocamos atrás da porta seja posta no meio da sala, à frente de todos.
O primeiro poeta deste mundo deve ter sofrido muito quando pôs de lado o seu arco e a sua flecha e tentou explicar aos seus amigos o que tinha sentido diante de um pôr-do-sol. É bem possível que esses amigos tenha ridicularizado o que ele dizia, mas ele fê-lo mesmo assim, porque a verdadeira Arte exige que o artista tente mostrar-se. Ninguém pode conviver sozinho com a beleza que é capaz de perceber.
E quanto a nós dois, que buscamos o Absoluto e que construímos um jardim usando a nossa própria solidão, a Vida deixou-nos a imensa paixão para aproveitar cada instante, com toda a intensidade."

Cartas de Amor do profeta, kahlil Gibran